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Entrevista a António Tavares, vencedor do Prémio Leya 2015


Recebida a notícia de que o Prémio Leya tinha sido entregue a António Tavares, o Clube de Jornalismo da Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho deslocou-se à Câmara Municipal da Figueira da Foz, onde conversou com o prestigiado autor.

Agora que romance O Coro dos Defuntos foi colocado nas bancas, deixamos aqui a entrevista para deleite dos nossos leitores.


Sinal: Sempre teve o “bichinho” da escrita? Com que idade é que isso se tornou mais sério?
António Tavares: Sim, sempre. (Risos). Tornou-se sério recentemente.

Sinal: Onde encontra inspiração para os seus livros?
António Tavares: Em tudo à minha volta, nas coisas que vou vendo, lendo. Não se pode escrever se não se ler. É preciso escutar o mundo, as conversas, as pessoas. Por exemplo, gosto muito de andar nos transportes públicos pois às vezes ouvem-se boas conversas que podem servir de matéria para projetos/livros futuros. As pessoas vão contando histórias. Também a ler se pode encontrar inspiração.

Sinal: Qual é a sensação de ganhar um prémio desta importância?
António Tavares: É compensadora. Nós, quando escrevemos, queremos agradar às pessoas. E
quando recebi o prémio, senti que tinha realmente agradado ao júri. Significa que houve pessoas credenciadas que gostaram, e esse reconhecimento é muito importante. Mas o melhor reconhecimento é o dos leitores.
Fui finalista deste prémio em 2013 e não tencionava concorrer a mais nenhum. Mas entretanto escrevi logo outro livro, enviei-o e tive uma menção honrosa. Escrevi este terceiro romance, mas não era para concorrer ao prémio. Dei-o a ler a uma pessoa amiga, que achou que tinha saído bem, eu também achei, e então enviei-o. Também porque tem o dinheiro associado. Resultou.

Sinal: O livro intitula-se O Coro dos Defuntos . Porquê este título?

António Tavares: A história retrata a forma como vivem as pessoas numa pequena aldeia do interior e a forma como vão interpretando o mundo à sua volta; decorre entre os anos de 1968 e 1974. A acção termina no dia 25 de abril de 1974. Estas pessoas, este grupo de aldeãos, não se destacam umas das outras, funcionam com se fossem um coro e fazem parte de um determinado tipo de vida que vai acabar com o 25 de Abril. Este acontecimento acaba com o seu isolamento. Depois vou ficcionando a história. Há um homem que foge e que se refugia dentro de um rochedo. As pessoas acreditavam nisto, acreditavam em tudo, não tinham instrução. Por isso, chamei-lhes defuntos, porque eram pessoas mortas para o mundo, com quem ninguém se importava. Serviam-se das suas próprias referências que tinham mais a ver com a natureza.

Sinal: De onde surgiu a ideia para este livro?
António Tavares: Foram histórias que ouvi, que tinham muita graça e que podiam ser ficcionadas. Conheço uma pessoa que viveu numa aldeia assim e que me contava histórias de lá. Pensei que se fosse ”cosendo” essas histórias, podia construir o romance.

Sinal: Apresente-nos uma boa razão para os mais jovens lerem o seu livro.
António Tavares: Uma boa razão é que o livro tem uma ironia muito grande. O meu primeiro romance foi um romance que eu quis que tivesse ternura, agora pensei que tinha que ter ironia. Eu próprio confesso ter tido grandes ataques de riso enquanto escrevia e acho que as pessoas também se vão rir.

Sinal: É vice-presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz? Como consegue conciliar este


cargo com a escrita?

António Tavares: Pois, isso é um problema. Para este livro tive de me levantar durante muito tempo às cinco da manhã e sentava-me na secretária a escrever. Foi escrito no Inverno e eu tinha de me embrulhar numa manta. Escrevia entre as cinco e as oito e meia. Quando saio das minhas ocupações já estou muito cansado.

Sinal: Qual foi o livro que mais prazer lhe deu a escrever?
António Tavares: Escrevi 3 romances, mas o que me deu mais prazer foi o primeiro, porque pensei que, como tinha sido leitor a vida toda, tinha chegado a hora de escrever um romance e quis fazer uma homenagem à literatura. Por isso, fui à minha biblioteca buscar os livros que me marcaram e os meus caderninhos onde registo as minhas notas sempre que estou a ler um livro e onde colo recortes e comecei a escrever. É a história de um rapaz que está a crescer e compara tudo com um mundo paralelo, que é o dos livros que leu. Foi um livro que me encantou ter escrito. É também autobiográfico.

Sinal: Como ocupa os seus tempos livres?
António Tavares: Eu depois não tenho tempos livres. Também não tenho tempo para fazer exercício físico. Devia, mas não consigo. O meu médico diz-me que devo fazer exercício físico, mas não consigo. Não vejo televisão e assim poupo imenso tempo. Quando, por vezes, depois de jantar vejo televisão, tenho a sensação de não ter feito nada
.

Sinal: Encara os livros que escreve como um passatempo?
António Tavares: É. É um passatempo. Tenho de ter uma rotina. Escrever é um ato isolado, temos de estar sozinhos. Tem de ser uma coisa de que gostamos muito. É um ato de solidão, um passatempo que nos dá prazer.

Sinal: Tem mais algum projeto na forja?
António Tavares: Tenho, tinha um romance que estava a meio, mas acho que não vou conseguir escrevê-lo. A história tem a ver com um homem que vai numa caminhada e chega a uma aldeia chamada Termini. A minha “pen” avariou-se, perdi o meu caderninho de notas onde guardava o resultado das minhas pesquisas e a história estava em Termini, por isso (Ri) … são demasiados indícios!

Sinal: Prefere escrever em papel ou no computador?
António Tavares: Escrevo no computador. Gosto de desenhar as letras, mas o computador tem outras vantagens, voltar atrás, apagar…

Sinal: Contavam-lhe muitas histórias quando era criança?
António Tavares: Contavam muitas histórias, mas mais do que isso, eu ouvia muitas histórias. É fundamental tê-las lido ou ouvido de alguém.

Sinal: Que mensagem deixaria aos nossos leitores?
António Tavares: Leiam. Leiam tudo. Ler é um fascínio.

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