O Sinal foi encontrar a Ana Sofia Bizarro no Porto!!
Tem 24 anos, é natural de Tavarede e saiu da Escola JC no ano letivo de 2016/2017
Frequentou o mestrado integrado em Medicina da FMUC e é interna de
formação geral no Hospital Universitário S. João no Porto.
Sinal- Quando descobriu em si a vocação para este curso?
Ana Sofia Bizarro - Sempre tive interesse em várias áreas. No secundário acabei por escolher o Curso de Ciências e Tecnologias e, ao longo desses três anos, comecei a explorar as hipóteses de cursos a seguir no ensino superior. Após investigar vários cursos, percebi que queria algo que me permitisse ter contacto com pessoas e ao mesmo tempo manter ligação à ciência. Fui falando com vários profissionais, analisando profissões e cursos como medicina dentária, ciências da nutrição e medicina e, no fim do secundário, acabei por escolher medicina. Entendi que era o curso mais abrangente dentro da área da saúde e que tinha o bónus de me permitir ajudar pessoas enquanto trabalho.
S – Se
voltasse atrás, faria a mesma opção? Porquê?
A.S.B. – Apesar
de achar que me iria sentir concretizada noutras áreas, voltaria a seguir a
mesma opção. Medicina é uma área estimulante, que permite desenvolver uma
grande variedade de tarefas. Adoro a rotina de trabalhar num hospital e o dia a dia
de um médico.
S – Na
sua perspetiva, que características são necessárias para se ter sucesso neste
curso?
A.S.B. – Medicina
é um curso exigente, que se faz muito pela repetição dos vários temas ao longo
dos seis anos. Tendo isso em conta, considero importante uma pessoa ser
organizada e metódica, de forma a ter as cadeiras minimamente em dia ao longo
do ano. Para além disso, considero importante também ser interessada e procurar
participar em estágios, Erasmus e também em atividades extracurriculares. Pela
minha experiência, estas atividades permitem-nos desenvolver competências que nos ajudam
a lidar com situações práticas que, muitas vezes, as cadeiras só por si não nos
conseguem ensinar, competências associadas à vertente humana, tão importante no
trabalho enquanto médico.
S – Que
conselhos daria a quem quiser seguir o mesmo curso?
A.S.B. – Considero
importante tentarem perceber se vão gostar do trabalho como médico, isto é,
uma pessoa pode adorar ciência e o curso de medicina e depois não gostar de
estar com doentes num hospital ou num centro de saúde.
Depois,
se efetivamente quiserem seguir o curso, é muito importante não se isolarem e
não fazerem da vida só estudo. A velha máxima “um médico que só sabe de
medicina nem medicina sabe” acaba por ser uma dica muito útil.
S – No
exercício da sua função, que papéis é que tem maioritariamente de desempenhar?
A.S.B. – Este
ano encontro-me a realizar o internato de formação geral, anteriormente
conhecido como "ano comum". Durante este ano vou passar por várias
especialidades. Neste momento estou a trabalhar no serviço de medicina interna.
Durante a semana trabalho 4 dias na enfermaria, onde avalio os doentes,
prescrevo eventuais exames necessários e ajusto terapêuticas, e 1 dia no serviço de urgência,
Depois
deste ano, as funções a desempenhar dependerão muito da especialidade escolhida.
Existem 3 grandes grupos de especialidades: médicas, cirúrgicas e laboratoriais.
As especialidades médicas e cirúrgicas, na sua maioria, têm internamento,
consulta e urgência, sendo que as cirúrgicas tem adicionalmente bloco
operatório. As especialidades laboratoriais passam mais por análise de amostras
e apoio a outras especialidades. Isto de uma forma muito resumida, pois cada
especialidade tem as suas particularidades.
S – O
que pensa das suas condições de trabalho?
A.S.B. – Acaba
por ser difícil responder a esta pergunta depois de um mês e meio de trabalho. Medicina
é uma área em que temos um início de carreira muito bom, com emprego garantido.
No entanto, a progressão da carreira não acompanha o aumento da
responsabilidade e da carga de trabalho, que são agravados pelo número de
médicos no SNS (inferior às necessidades), o que acaba por se tornar um pouco
frustrante.
S – O
que aprecia mais na sua profissão? Porquê?
A.S.B. – Gosto
muito do processo de diagnóstico e de montar o "puzzle" de forma a perceber o que
o doente tem. Gosto também de acompanhar o doente ao longo do tempo e de o
ajudar a recuperar a saúde. É muito gratificante ter esse impacto na vida das
pessoas.
S – Quais são os aspetos que menos a atraem? Porquê?
A.S.B. – O que
menos me atrai nesta área é o facto de acabarmos por ter o futuro bastante
definido durante cerca de 12 anos. Antes de escolher medicina não tinha noção
de que acabamos de estudar muito “tarde”, isto é, desde o início do curso até
ser especialista acabam por ser entre 11 a 13 anos, sendo que grande parte
desse período é passado a trabalhar e estudar e, durante o internato, os
médicos têm uma carga horária pesada e responsabilidades crescentes ao longo do
tempo. Apesar de esta “falta de liberdade” poder ser vista como algo bom, na
minha opinião, em termos de carreira e de vida pessoal, acaba por ser um pouco
limitador.
S – Na
sua opinião, que características são necessárias para ser um bom profissional?
A.S.B. – Para
além do conhecimento, que deve ser a base, é muito importante ter empatia e
nunca nos esquecermos de que estamos a tratar de pessoas, com histórias de vida
diferentes das nossas, problemas e medos diferentes dos nossos. Na minha
opinião, estes dois “ingredientes”, juntamente com a humildade para perceber as
nossas limitações e saber quando pedir ajuda a outros colegas, fazem um bom
profissional.
S – Em
termos de mercado de trabalho, tem alguma ideia das perspetivas
existentes?
A.S.B. – Mais
uma vez, as perspetivas existentes em termos de mercado de trabalho, dependem
muito da especialidade e também das experiências/currículo que se vai
construindo como, por exemplo, cursos ou pós-graduações que se fazem ao longo do
percurso.
Durante
o internato acaba por ser difícil acumular muitas funções porque, para além das
40 horas de trabalho no hospital, também é preciso dispor de muitas horas
para estudar e para realizar trabalhos obrigatórios para a conclusão do
internato. Depois disso é possível trabalhar no SNS e/ou no privado em várias
funções, tanto clínicas como administrativas. Para além disso, existe sempre a
possibilidade de trabalhar na formação de colegas da área da saúde ou na
investigação. Uma das vantagens desta área acaba por ser esta abrangência das
tarefas que temos capacidade e formação para realizar.
S – Que conselhos daria a quem quiser ter esta profissão?
A.S.B. – Ser
médico é uma profissão exigente e com grande responsabilidade, por isso, se
quiserem seguir esta carreira, aconselho a tentarem perceber se é algo de que
gostam mesmo, porque a ideia do prestígio e de fazer muito dinheiro acaba por
não ser linear nos dias de hoje. Por outro lado, como já disse, é uma profissão com muita versatilidade.
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