O Sinal foi entrevistar o André Vaz no Dubai!
Tem 31 anos e saiu da Escola JC no ano letivo de 2010/2011
Frequentou a Licenciatura em Ciências do Desporto e Mestrado em Treino Desportivo pela Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra
Atualmente é Treinador de Natação.
Sinal: Quando descobriu em si a vocação para a sua atual atividade?
André Vaz: Perto do final do percurso do ensino secundário. Era nadador de competição no Ginásio Clube Figueirense, estava a ter bons resultados desportivos a nível nacional e sentia que queria permanecer ligado à modalidade por muito tempo. Além do enorme gosto pela natação, devido à minha personalidade, achava que tinha o que era preciso para ser treinador.
Sinal: Se voltasse atrás faria a mesma opção? Porquê?André Vaz: Já pensei: "Se tivesse tomado outra opção, teria sido melhor?". Terminei o secundário com média de 18 em Ciências e Tecnologias e felizmente o meu leque de opções era vasto, mas decidi seguir aquilo que sentia e o que me imaginava a fazer a longo prazo, por isso segui Ciências do Desporto para depois tentar iniciar uma carreira como treinador de natação. Nestes praticamente 10 anos na profissão, já houve altos e baixos e naturalmente já me questionei acerca do que seria de mim se tivesse tomado outra opção. Mas no final de contas, segui aquilo que queria, a minha paixão pela natação. Em termos de realização pessoal, o balanço é muito positivo, portanto sei que se fosse hoje voltaria a fazer a mesma opção. Já concretizei muitos dos meus objetivos mais cedo do que esperava e continuo a ter motivação para continuar a evoluir e a conquistar mais sucessos.
Sinal: Na sua perspetiva, que características são necessárias para ter sucesso nesta área?
André Vaz: Para ser ter sucesso como treinador é fundamental ter paixão pela modalidade, fortes capacidades de comunicação e de liderança, disciplina, tal como uma enorme capacidade de planeamento e de constante adaptação. Estar sempre disposto a adquirir mais conhecimento, a querer aprender novos métodos e a aprimorar a metodologia utilizada, acho igualmente imperativo se quisermos “acertar” mais vezes do que erramos. Digo isto pois o sucesso acaba por ser sempre subjetivo, nem tudo depende apenas de nós no que diz respeito ao resultado final. Mas se formos profissionais e trabalharmos arduamente naquilo que podemos controlar, certamente estaremos mais perto da excelência.
Sinal: Como surgiu a oportunidade de ser treinador num país tão distante?André Vaz: Foi um pouco inesperado, mas aconteceu de uma maneira muito simples. Recebi uma mensagem via Whatsapp com um convite para abraçar este projeto. Achei que seria um desafio totalmente diferente daquilo a que estava habituado e decidi dar uma oportunidade, também pela proposta me parecer boa. Senti igualmente que poderia ser o momento certo para embarcar numa experiência deste género, completamente fora da minha zona de conforto, e que me poderia fazer evoluir em vários aspetos.
Sinal: Foi fácil a sua integração num espaço cultural tão diferente do português? Quais as principais dificuldades que teve de enfrentar?
André Vaz: A comunidade aqui acaba por ser composta por mais de 80% de estrangeiros, além de também ser um local muito virado para o turismo. Todo este multiculturalismo acaba por facilitar o processo de integração. Toda a gente fala inglês o que é uma facilidade também. O mais difícil a nível pessoal é mesmo estar muito distante dos amigos e da família. A nível profissional, o mais difícil é gerir grupos de pessoas com backgrounds totalmente diferentes e ideias completamente diferenciadas em diversas temáticas. Mas lidar com os vários obstáculos tem acabado por ser uma experiência fortalecedora.
Sinal: O Dubai foi recentemente assolado por violentas inundações. Foi de alguma forma afetado pelas circunstâncias? Como viveu esses momentos?André Vaz: Foi efetivamente uma tempestade sem precedentes, passei alguns momentos um pouco complicados. Pessoalmente, a pior parte que passei foi na estrada a tentar chegar a casa no primeiro dia dos acontecimentos, foi um desafio! Aconteceu de tudo, alguns sustos pelo caminho, imensas horas a tentar chegar a casa pois o cenário na maior parte dos lugares estava caótico. O carro até ficou um pouco inundado por dentro, mas felizmente não teve danos maiores para além disso. Nos dois dias seguintes pude permanecer em casa em segurança. Ao nível da habitação, felizmente não sofri quaisquer danos. Acabei por não ter prejuízos comparativamente ao que algumas pessoas passaram com esta catástrofe. Sei de portugueses que cá vivem que ficaram com tudo destruído dentro da própria casa…
Sinal: Pode falar-nos um pouco das suas condições de trabalho.André Vaz: As infraestruturas são boas, são muitas as horas de trabalho semanalmente, também com vários fins-de-semana ocupados com competições, um pouco à semelhança do que tinha em Portugal. A maior diferença acaba por ser ao nível financeiro, em que aqui no Dubai as condições são substancialmente melhores. Ainda há um enorme caminho a percorrer em Portugal no que diz respeito à profissionalização das modalidades desportivas; salvo raras exceções, as condições para os treinadores e para os atletas são muito precárias. Na maioria dos casos, quem se quer dedicar ao desporto, tem que ter mais que um emprego para subsistir e ter melhores condições de vida, ao contrário do que se verifica em muitos outros países.
Sinal: O que considera ser mais gratificante na sua profissão? Porquê?André Vaz: O melhor é mesmo ter a possibilidade de influenciar os jovens positivamente a serem a melhor versão deles próprios. Não só a nível desportivo, mas também a nível pessoal. É muito mais do que recordes e medalhas. Acaba por ser uma sensação muito boa, quando após alguns anos de deixar de treinar um determinado atleta, se mantém o contacto. Alguns até continuam a procurar os meus conselhos para os mais variados assuntos. Tenho vários casos desses e sinceramente isso é o que acaba por ser mesmo o mais gratificante. Perceber o crescimento deles também como pessoa e ver que a influência que tive foi realmente importante para eles. Claro que publicamente os resultados obtidos é que espelham o meu trabalho como treinador mas esta sensação de dever cumprido acaba por ser tão ou mais gratificante que qualquer resultado desportivo de excelência conquistado.
Sinal: Calculamos que tenha especial significado para si a vitória do Diogo Ribeiro no campeonato do mundo de natação. Quer comentar?André Vaz: Naturalmente. Fui treinador dele durante 5 épocas, conquistámos muito nesse período, foi comigo que ele deu o salto para o alto rendimento e é bom ver que todo o trabalho está a ter continuidade e tudo o que se perspetivou, está a acontecer. É um orgulho ver que permanece a fazer história na natação e no desporto português.
Sinal: Pode falar-nos dos seus projetos para o futuro?André Vaz: Sinceramente ainda não decidi nada em relação a qual será o próximo passo. Mas a longo prazo, pretendo continuar a crescer como profissional, procurando novas experiências e desafios que me permitam evoluir. Enquanto tiver motivação, pretendo continuar a ser treinador e a procurar desenvolver atletas para o alto rendimento e contribuir para o crescimento da modalidade a nível nacional e internacional.
Sinal: Que conselhos daria a quem quisesse fazer um percurso profissional igual ao seu?André Vaz: Nunca achem que já sabem tudo, há sempre espaço para aprender mais e para melhorar algum aspeto pois o que funcionou bem hoje, não quer dizer que vá funcionar de igual modo amanhã. Lutem sempre por aquilo em que acreditam, vai haver momentos difíceis e de dúvida, mas vão à luta e nunca baixem os braços pois, mais tarde ou mais cedo, vai tudo dar certo.
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